Lilian Sais
É doutora em Letras e pesquisadora e tradutora da área de grego antigo e paulistana de nascença. Atriz e leitora voraz da literatura brasileira contemporânea, já integrou as trupes A Saga, KD? e o Grupo TAL. Gosta de samba, cerveja e poesia e é defensora da boemia, de piadas ruins e das conversas descompromissadas de mesa de bar. É idealizadora, pesquisadora, roteirista, montadora e narradora do podcast Todos os Ontens, do canal Rebentar Central de Histórias. Publicou os livros de poemas Passo Imóvel (Cozinha Experimental, 2018) e Acúmulo (Patuá, 2018). Os amigos dizem que é uma peste, mas que cozinha bem. Ela nega.
Pela GÊNIO EDITORIAL, participou da coletânea Quando falávamos do desejo e outros sentimentos menores.
Às vezes a gente se fere para ferir o inimigo, você já reparou nisso? Foi o que sussurrou ao pé do meu ouvido na hora de desvencilharmos as mãos. Permaneci em silêncio, esperando a continuação da frase que lhe daria, afinal, o sentido. Nunca veio. Em vez de completar a ideia, ele apenas me lançou um olhar fixo e indecifrável e, já dando os primeiros passos noutra direção, fez abrir na face uma fenda, uma espécie de abismo, um rasgo diabólico contornado por seus lábios, sorriso de satisfação e triunfo que não ornava em nada com a parca performance que seu pau mediano tivera naquela madrugada, sempre sujeito a escapadinhas incômodas na mudança das posições, por carência de perícia, ereção mais sólida e uns três ou quatro centímetros adicionais.